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Interiorização da Libras: acessibilidade e comunicação

 

O projeto de extensão Cursos de Libras no Interior, coordenado pela professora Ana Cláudia Barbosa de Lima Barros, acontece anualmente na Escola Municipal Maria Farias de Albuquerque, localizada no município pernambucano de Bom Jardim, e em outras cidades do interior de Pernambuco, tendo como público-alvo todos os interessados no aprendizado da Língua Brasileira de Sinais (Libras), independentemente da faixa etária. Em 2024, o projeto tem como duração o período compreendido entre o dia 03/08 e o dia 14/12, sempre visando formar cidadãos comprometidos com a inclusão social.

 

(Equipe do projeto, 2024)

Equipe pedagógica e estudantes do projeto em confraternização de São João

 

Partindo da tríade Ensino–Pesquisa–Extensão e do movimento de interiorização da universidade pública, o projeto foi idealizado em 2017 e criado em 2018 pela professora Ana Cláudia, nascida na cidade de Bom Jardim e docente do curso de Letras-Libras do Departamento de Letras do Centro de Artes e Comunicação (CAC) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), campus Recife. Esta ação de extensão incentiva egressos e estudantes surdos do curso de Letras-Libras da UFPE (a partir do 4º período) a entrarem em contato direto, como professores, com a comunidade externa à Universidade, não apenas para ensinar os saberes acadêmicos, mas para também enriquecerem suas formações, sendo uma mútua contribuição pelo conhecimento e pela relação entre a cultura surda e a cultura ouvinte. 

 

Nesse sentido, Allisson Silva, discente extensionista que atua nos cursos desde 2022, declara: “Anteriormente eu já ensinava Libras em minicursos, mas eu não me sentia pronto ainda. Parecia que faltava algo na minha metodologia. Quando eu entrei no curso de extensão em Bom Jardim, eu me senti maravilhado. Essa experiência já tem dois anos e eu estou muito feliz com ela. [...] Nós sempre temos contato [com Ana Cláudia] para visualizar como está o andamento do projeto, verificar como está a prática. A professora Ana, como coordenadora, está sempre junto do curso de Libras, e eu me sinto muito responsável pelo projeto. Se há alguma dificuldade, nós temos reuniões, conversamos, e esse contato é sempre fluido, principalmente com o foco de melhorar o desenvolvimento dos alunos. Temos um bom trabalho em equipe porque a coordenadora nos ensina coisas para a nossa experiência, como elaboração de projeto, ética profissional, estratégias metodológicas diversas… para que eu, no futuro, possa também ser um coordenador. Quem sabe? Pode acontecer! Haha. Ela me dá essa oportunidade”. 

 

Sobre o fazer docente, ele continua: “No primeiro contato que tive com a minha primeira turma, eu senti que eles eram meus alunos, que eram muito meus mesmo. Foi uma turma de Básico I e eu me senti muito feliz, não tenho nem palavras para descrever essa experiência. A minha relação com os estudantes é de muita reflexão. Quando preciso de alguma intervenção, Ana conversa comigo, me orienta… é um aprendizado tanto para mim quanto para eles, para todos, e é bem tranquilo, temos uma flexibilidade na comunicação.  Percebemos que pode ser difícil por conta das línguas [Allisson é surdo, assim como todos os outros discentes extensionistas], mas eu sinto que consigo me transformar, buscar uma forma de estar no nível dos meus alunos, que são ouvintes, conseguindo perceber onde posso melhorar para que eles possam se desenvolver melhor na língua de sinais”. 

 

“Sobre isso, sinto que a diferença entre a minha língua, a minha cultura, a minha identidade e as várias questões linguísticas imbricadas aqui, diante dessa outra cultura, que é a cultura ouvinte, a língua e as formas de pensar deles, me levam à necessidade de ter a curiosidade ouvinte, de adentrar essa cultura, adentrar as linguagens, a comunicação deles, buscar para saber meios de ensinar a língua de sinais. Não de forma direta, com a gramática, porque senão eles não vão entender, mas sim com um jeito de ensinar de acordo com as duas culturas, internalizando-as e expressando-as. São línguas e estruturas diferentes, mas dá para explicar de uma forma mais simples, compreensível”.

 

Como um todo, o projeto já ofertou cursos de Libras nas cidades de São Lourenço da Mata, Camaragibe, Carpina, Moreno e Bom Jardim, localizadas na Zona da Mata e no Agreste pernambucanos, contando com relatos satisfeitos dos participantes, os quais destacam a contribuição do projeto para suas formações como profissionais e indivíduos. É o caso de Douglas Alexandre, que teve seu primeiro contato com a ação durante o Ensino Médio, sendo ela que lhe direcionou para agir sobre um futuro cidadão: “O curso de extensão ofertado abre portas não somente para aqueles que já estão há muito tempo procurando aprender a Libras, mas também para pegar aqueles ‘desavisados’, que não esperam, nem sequer imaginam, mas se apaixonam, como eu. Após a conclusão do curso, me sinto feliz em saber que nós, como seres humanos, devemos não nos apropriar, mas sim nos vincular a culturas, línguas, e enriquecê-las, pois [elas] trazem muitos ensinamentos e ajudam a ver o outro de uma forma mais humanizada e empática”. 

 

“De muitos e muitos caminhos ou escolhas que a vida nos oferece, considero que essa foi uma das mais importantes para o meu seguimento e evolução em diversas áreas da vida, me levando, atualmente, a atuar na área como intérprete e, ao mesmo tempo, ser acadêmico no curso de Letras - Libras, o que tanto sonhei, além de também ver colegas que estudaram comigo exercendo e trilhando o caminho inclusivo e da defesa das línguas de sinais. Isso me faz pensar na importância desse curso, que tem um valor inestimável para aqueles que o acessam”, finaliza Douglas. 

 

(Equipe do projeto, 2019)

Equipe pedagógica e estudantes do projeto

 

“Nós temos muitos depoimentos de estudantes que foram fruto do curso, que começaram a aprender pela letra ‘A’ e hoje são profissionais da educação, estão dentro de salas de aula como intérpretes de Libras e apoiam pessoas surdas. Outros já estão concursados… tudo isso nos deixa orgulhosos demais”, diz a professora Ana Cláudia. “Quando eu vejo o fruto dessa sementinha [o projeto], fico muito feliz, entusiasmada, pensando em como foi importante esse primeiro passo, essa construção. Hoje, as pessoas em meu interior não falam em línguas de sinais sem se lembrarem de mim, pois me tornei uma referência a esse respeito em minha comunidade e isso é muito gratificante. Talvez seja o que eu vim fazer na Terra, a minha missão, que eu tenho abraçado e seguido. [...] Sou muito feliz e grata por dar continuidade a esse projeto. Espero e tenho fé de que ele vai permanecer, de que vamos manter essa chama viva”, ela completa. 

 

A respeito do funcionamento do projeto, com uma carga horária mínima de 60 horas para cada módulo, as suas aulas são ministradas aos sábados e têm quatro turmas, uma para cada nível, sendo estes (1) Básico, (2) Intermediário, (3) Avançado e (4) Tradução e Interpretação, modelo consagrado em cursos de Libras do Brasil. Neste ano, por conta da demanda, só estão sendo ofertadas as turmas de Básico, Intermediário e Avançado. Ao completarem cada etapa, os estudantes participam de uma culminância (momento em que exibem os resultados de seu aprendizado), recebem uma certificação oferecida pela UFPE e são convidados a progredir no curso. 

 

(Equipe do projeto, 2018)

Equipe pedagógica e estudantes do projeto

 

Para receberem acolhimento e mais informações de forma presencial, as pessoas interessadas em integrar a ação podem buscar a equipe extensionista na Escola Maria Farias em todos os sábados, das 9 às 12h. Não há limites de faixa etária para o ingresso e crianças a partir dos 9 anos de idade também podem participar das aulas, desde que acompanhadas por seus pais ou responsáveis. A equipe do projeto também está aberta a convites para levar o curso a quaisquer instituições engajadas e disponíveis, com espaço para as atividades. 

 

Para saber mais:

Contato da Profa. Ana Cláudia:  anaclaudia.barros@ufpe.br

Data da última modificação: 09/12/2024, 09:52